sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Sublime


E então, em um dia quente e quieto, ele chega: por mais que você tenha corrido e se negado a deixar ele entrar, por mais que tenha lembranças de outros dias e por mais que tenha cicatrizes ainda recentes (e outras nem tanto) no coração. Ele não quer saber e é teimoso feito criança alegre e invade o recinto mesmo assim. E daí pra frente tudo vira esperança, mesmo sem querer. E daí pra trás, tudo acaba virando apenas um monte de fotografias em sépia. Insistente, ele não vai parar de te cutucar até você assumir que sabe que ele está presente, até você se deixar levar pela correnteza e sentir os pés serem arrebatados sem a mínima dó do chão. No começo é aquela vertigem confusa, um rodamoinho de cores e uma dor de cabeça insana por tentar se prender a algo sólido, mas enfim tudo se estabiliza e volta aos eixos, mas não da mesma forma que era: você passa a ter uma percepção melhor das coisas, porque lhe parece que o sol brilha e esquenta mais, dá pra ouvir o barulho dos passarinhos alegres e as nuvens que até então tinham sido simples denúncia de vapor no céu, passam a ter desenhos perfeitos. As pessoas lhe parecem mais simpáticas, ou você é mais simpático com as pessoas, que seja. O que vale é que há sempre um sorriso em você, mesmo que não haja demonstração física disso, mesmo que esse sorriso seja apenas de você para você mesmo. E ainda tem um fator extra que melhora as coisas de uma forma quase absurda: há alguém do teu lado, alguém com as mãos entrelaçadas nas tuas, alguém que sente o mesmo que você, ou que pelo menos sente coisas muito parecidas e isso causa uma sensação tão grande de conforto, de segurança, que você jura ser capaz de fazer coisas que nunca havia cogitado em fazer só pra ter aquela pessoa cada vez mais perto, mas essa insanidade não é algo ruim. Finalmente você pode entender o que as borboletas diziam em silêncio, porque agora você pode percebê-las e pode ver que pelo menos uma cruza o seu caminho durante o dia. Finalmente você pode entender o poeta inebriado que diz "De tudo ao meu amor serei atento..." que antes você achava tão piegas e ultrapassado. As coisas acabam tornando-se muito mais fáceis de serem entendidas e muito mais simples também. Você sorri porque está feliz, você sorri porque encontrou a felicidade. E mesmo que você seja louco desestabilizado, incompreensível e alguém cheio de manias e dúvidas, as mãos continuam corajosamente entrelaçadas nas tuas, os abraços continuam sendo apertados como se não houvesse defeito algum, como se não importasse nem um pouco a sua neurose que vem nos dias ímpares e múltiplos de 3, porque mesmo ela sendo uma baita esquisitice, surge algo que chama aceitação, misturada a uma grande parcela de carinho. Um carinho que você não sabe nem explicar porque existe, porque há tantos motivos em você para que o outro deseje o contrário, mas este contesta todos os fatores negativos e como que em desafio, permanece forte em seu lugar. Isso sem falar na felicidade que invade o seu lar, invade os seus olhos - eles denunciam, pelo brilho, que agora você é uma pessoa plenamente feliz -, é quase um escândalo o que acontece com você, finalmente dá para você contar sobre os seus planos, dá para falar besteiras sem medo, dá pra ter a cara amassada de sono ou inchada de chorar e para usar uma camiseta que seja parecida com um pijama e ainda assim ter um olhar de admiração acompanhando cada passo que você dá. Mas não adianta ficar falando aos quatro ventos sobre o sentimento - mesmo que dê vontade de falar sem parar - porque ainda há, no mundo, pessoas que não sentiram o mesmo que você, mas pouco te importa porque no momento, aquelas mãos continuam atadas firmemente às suas.

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